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3 de set. de 2010

きずな – Kizuna (Vínculo)

Ah, as relações. Esses vínculos que não sabemos (ou sabemos muito bem) porque são criados, que nos fazem sorrir e sofrer, muitas vezes simultaneamente. Olhamos para alguém, e, no mesmo instante, uma relação com o outro é estabelecida. "Não externalize opiniões negativas acerca de alguém quando estas são tiradas à primeira vista", foi o que uma professora disse. Faz sentido. Se você não gosta dessa pessoa, dificilmente você não criará vínculos com ela, então pra que falar algo sobre ela?

Mas não estou aqui pra falar sobre quem não gosto. É para tentar entender esse estranho sentimento que toma conta da gente sem percerber, sorrateiro, porém intenso. Amizade, amor, fraternidade, relações de pai e filho, todos são vínculos que, por vezes, não são impostos, apenas acontecem, fluem naturalmente.

Amizade é uma das coisas mais importantes que temos. São vínculos que decidimos e não decidimos ter ao mesmo tempo. Nos sentimos bem perto dessa "família" que escolhemos. Entretanto, às vezes me sinto distante de certos amigos, mesmo quando convivo regularmente com eles. É estranho, de uma hora para outra você "não se sente mais em casa", mesmo gostando muito de cada um deles.

E quando amor (ou algo que não se consegue classificar) se mistura com amizade? É mais complicado ainda. O medo de acabar com uma relação já constituída e delimitada parece que impede que se tome certas decisões, que serviriam até para desencargo de consciência. Parece que um sentimento tenta se sobrepor ao outro, ambos não conseguem conviver harmonicamente. Ou talvez seja apenas imaturidade minha, não sei.


As relações com a família também são complicadas. Muitas vezes descarregamos nosso estresse (e vice-versa) nos parentes próximos, e os vínculos se abalam, entretanto, parece que logo eles se consertam, como se fosse mágica. Queria que as amizades fossem do mesmo jeito. É um dos pontos complicados, escolhemos nossos amigos, entretanto estabilizar essa relação de confidência é algo que demora a ser construído, e com mais dificuldade. Na hora de trabalhar, os vínculos também se fazem presentes. Muitas vezes é complicado separarmos o profissional e o pessoal. Nossa relação com determinada pessoa pode até mesmo atrapalhar um trabalho, seja gostando ou não dela.

Uma eterna e sensível balança parece que nos sustenta todo o tempo, em todos os aspectos de nossa vida, e cabe a cada um de nós controlá-la. A minha, no momento, anda bastante desestabilizada. E como anda a sua, caro metafórico leitor?

André L.

2 de set. de 2010

Os sons


Minha relação com a música começou bastante esquisita. Desde pequeno recebo um enxurrada de músicas dos mais diversos estilos, desde a MPB até o classic rock. Tudo influência de minha mãe. Apesar de ter nascido em um berço relativamente musicado (acho que é uma palavra mais apropriada que "musical"), aquela baderna auditiva que me irritava toda vez que eu queria ver TV em paz nunca fazia sentido para mim. Achava chato, tedioso, apenas barulho. Tenho algumas lembranças, é claro, de gostar de certas músicas, ter certo apreço por alguns artistas, claro. Mas nunca passou disso. Ouvir discos (mãe tem uma coletânea gigante de discos e CDs até hoje)? Aumentar o volume do rádio no último? Não, não era para mim.

Até meus 14 anos, minha ideia sobre música pop era praticamente inexistente. Só ouvia o que tocava nas rádios, com bastante reclamação para desligarem o aparelho, lógico. Britney Spears? N'Sync? Backstreet Boys? Spice Girls? Eram apenas nomes distantes da minha realidade (até hoje o são, mas isso é outra história). Mas tudo mudou no meu primeiro ano de Ensino Médio. Graças a uma amiga, fui apresentando à música pop contemporânea japonesa. Japão, André? Japão sim, caro metafórico leitor. Xing ling dong? Não, isso é chinês, próximo corredor à esquerda. Foi através desses artistas com nomes diferentes e canções não tão assim que eu passei a adquirir o hábito de parar para ouvir, sentir a música.

Foi aí que eu me dei conta de que eu não odiava música. Os seres humanos são mais complexos do que aparentam, ouso dizer que é o ser que mais se transforma, e de uma maneira tão radical. Talvez seja isso o que chamam de maturidade, ou, pelo menos, um vago sinal dela?
Não tenho formação nenhuma. Técnica, estudo, nada que eu possa bater no peito e dizer "eu sei sobre música". Mas amo, adoro essa conjunção harmônica de sons que flui naturalmente. Posso parecer meio brega quando falo sobre esse assunto, mas que se dane. Brega, cri cri, clichê, dou minha cara à tapa: music is my life.

Gosto de cantar. Como disse ali em cima, não tenho estudo nenhum. Canto livremente, canto pela vontade e pelo prazer de cantar. Canto para expressar o que eu sinto, o que eu quero passar pra quem me ouve (nem que seja uma dor de cabeça, haha). Tenho amigos que cantam, a quem tenho muito apreço. Amizades se constróem por causa da música, minhas amizades auditivas, como falo.

Cinco anos se passaram desde meu "encontro". Tenho o costume de sempre estar cantarolando ou dedilhando esquisitamente uma música em qualquer lugar onde eu esteja. Estou sempre com aqueles dois fios pretos que toda mãe odeia grudados no meu ouvido. Sou um ser da (pós?)contemporaneidade, baixo músicas e mais músicas, alimento minha fome pelo novo, pelo que me instiga. Passo pelo setor de Música da universidade com ouvidos atentos, olhos de admiração e uma certeza. Uma certeza.

André L.

Reflexivo e Infrutífero



Sabe, eu nunca mantive blogs pessoais durante minha adolescência. Nunca consegui manter uma regularidade de postagens, algo me desviava, esquecia de atualizar. Mas, naquela época, acho que eu tinha outras preocupações, outros medos, outras necessidades. Agora, eu sinto vazios e preenchimentos ao mesmo tempo. Alegrias e tristezas repentinas, que fazem do riso um choro repreendido (o pior de todos os choros é aquele que não aparece). Estou aqui para isso.

Falar sobre mim nunca foi tão importante quanto agora. Às vezes eu sinto que incomodo as pessoas ao meu redor expressando meus "dramas", minhas limitações, meus medos. Não estou desmerecendo as pessoas que sempre me ouvem e me aconselham, muito pelo contrário. Eu sinto que cada um tem seus problemas pessoais, suas encruzilhadas a cruzar, bifurcações a escolher, caminhos a abdicar e que também sou apenas mais um deles, portanto acho que me comporto de forma egoísta quando tomo-lhes seu tempo de vida para falar do que sou. Estou aqui para isso.

Raciocinar, refletir sobre o que acontece e o que nos cerca. Aproveitar cada bom momento que surge, procurar o infinito no que é limitado. Rir, chorar, emputecer. Estou aqui para isso.

Infrutífero? O minúsculo, porém retumbante sinal do meu humor peculiar, que não me abandona nunca. Porque rir de tudo é desespero, mas rir de si próprio é necessário. Estou aqui para isso.

Reflexivo? Porque, por mais que minha cara transpareça um sorriso ou uma apatia, estou pensando. Pensando, e muito. Se esse pensamento é útil para alguém, pouco importa. Só sei que nada sei, porém sei que posso saber. Estou aqui para isso.

André L.